Região Asiática do Pacífico aumenta seu potencial militar

Na Região Asiática do Pacífico ocorre uma verdadeira corrida aos armamentos, o nacionalismo belicoso aumenta, são cada vez maiores as contradições entre Estados, informa o International Institute for Strategic Studies (Grã-Bretanha), desenhando um quadro bastante preocupante na região mais dinâmica e povoada do mundo. A principal tendência é o aumento das despesas militares.

Liudmila Saakyan | Voz da Rússia


Segundo alguns cálculos, a RAP é a região com o mais rápido aumento de despesas militares. Os EUA continuam a ser o líder alí, o segundo lugar pertence à China e o terceiro é do Japão. As restantes potências regionais também não poupam dinheiro na defesa.

Claro que, durante décadas, os seus orçamentos para a defesa e as possibilidades militares ficaram aquém de muitos países europeus. Os Estados asiáticos concentraram-se na economia, investiram nas infraestruturas e na ciência. Hoje, muitos deles começaram, simultaneamente, ao aumento e modernização das forças armadas.

No citado relatório, o crescente nacionalismo dos grandes jogadores, por exemplo, da China, é considerado um traço caraterístico da situação na RAP. Confiante na sua própria exclusividade com base no aumento do poderio econômico e no crescimento sem precedentes do PIB, a China comporta-se na região de forma cada vez mais confiante e agressiva, o que não pode deixar de preocupar os vizinhos. Principalmente aqueles com quem Pequim tem litígios fronteiriços.

Desde 2009 que se tornaram frequentes os casos de disparos de tiros por lanchas de patrulha da China contra barcos de pesca que se dedicam à faina nas águas que Pequim considera suas. No verão de 2012, o comando do exército chinês decidiu criar nas ilhas Spratly uma base militar. E, na primavera passada, uma corporação petrolífera chinesa começou a prospeção nas águas litigiosas do mar da China Meridional.

Os países do sudeste da Ásia assistem também a um forte aumento do nacionalismo. Para muitos, isso está ligado ao crescimento da China. Nessa região, nunca gostaram de chineses, mas as disposições antichinesas aumentaram especialmente nos últimos tempos. Um exemplo recente são as desordens antichinesas no Vietnã em maio, que começou precisamente devido a uma plataforma de prospeção em águas litigiosas. Não se pode deixar de assinalar o aumento dos sentimentos de extrema-direita no Japão, onde também acontece a revisão da política de defesa.

Será possível dizer que a Ásia está grávida de uma guerra? Façamos essa pergunta a Alexander Khramchikhin, vice-diretor do Instituto de Análise Política e Militar:

“Isso é mais do que sério e nada se resolverá por si só nessa região. Os países veem que os EUA não defendem os interesses até dos seus aliados, se isso puder trazer perdas à própria América. E tanto mais que a América não vai combater contra a China. Por essa razão aí tem também hoje uma corrida aos armamentos.

Além disso, é evidente que o centro do mundo se desloca para a RAP. Aí situam-se hoje as mais fortes economias do mundo, bem como os mais fortes exércitos. Não se pode excluir a possibilidade de eles se dedicarem à partilha dessa região e, depois, talvez numa envergadura mais ampla. Dificilmente as fortes ligações econômicas poderão impedir o choque militar. Antes da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais, todos os países tinham fortes ligações econômicas, o que não evitou que se envolvessem numa guerra”.

Vladimir Anokhin, vice-presidente da Academia de Problemas Geopolíticos da Rússia, tem outra opinião: “O mundo está entrando numa nova fase. Ele torna-se multipolar e multivetorial. E, quando algum país adquire peso econômico, ele quer ser também um jogador político mais ativo. O crescimento da economia é sempre acompanhado do aumento dos músculos militares.

Compreendo os receios da Coreia do Sul, do Japão e de outros países em relação à China, mas isso é um processo geopolítico evolucionista, normal. O mundo encontra-se numa bifurcação. O dinamismo dos processos sociais, econômicos e político-militares aumenta, as contradições crescem. Mas todos compreendem que nenhum conflito militar nessa região resolverá qualquer um dos problemas existentes a seu favor. Por isso, os países entre os quais há contradições serão como dois gatos que se assanham, mas não combatem...”.

Entretanto, a maioria da população da RAP receia que as disputas territoriais com a China podem conduzir à guerra. A essa conclusão chegaram na empresa de consultadoria Pew Research.

Segundo uma pesquisa realizada em 11 países, a maior parte da população está muito preocupada com a possibilidade de um conflito militar com a China. Nas Filipinas, 93% dos respondentes receiam; no Japão — 85%; no Vietnã — 84%; na Coreia do Sul — 83%; na Índia — 72%, na Malásia — 66%, no Bangladesh — 55%, na Indonésia — 52%. Na própria China, 62% dos respondentes declararam que um conflito em torno de territórios litigiosos pode levar a uma guerra.

A situação é agravada pelo fato de na RAP não existirem mecanismos jurídicos eficazes. Se na Europa foi criada uma arquitetura de segurança dirigida pela OSCE, embora muitos se queixem da sua baixa eficácia, na RAP não existe semelhante estrutura.

Os problemas de segurança são discutidos aos mais diversos níveis e nos mais diferentes formatos, mas, por enquanto, isso não levou ao aparecimento de documentos juridicamente obrigatórios. Por isso, os países da região poderão aumentar insaciavelmente as despesas militares, sem o controle ou de forma transparente para os vizinhos.


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