Tráfico de órgãos na Ucrânia é repetição do que ocorreu na Iugoslávia

A revelação da correspondência entre Serguei Vlasenko, o antigo advogado de Yulia Tymoshenko, e uma médica alemã revelou que a Ucrânia envia para a Alemanha órgãos retirados a milicianos feridos.


Françoise Compoint | Voz da Rússia

Quando na mídia surgiram relatos horríveis sobre a “casa amarela”, parecia que perante os nossos olhos surgiam as imagens de um filme de terror e não a realidade sintomática do drama do Kosovo. A Iugoslávia deixou de existir. Mas ela deixou testemunhas: os prisioneiros sérvios, que pediam para serem mortos em vez de serem “cortados aos pedaços”, e os participantes dessas cirurgias, em que se “esquartejavam” pessoas na mesa de operações.

Qual será o destino dos milicianos feridos de Donetsk e de Lugansk?

Ninguém tenta condenar ninguém sem fundamentos. O que está à vista são fatos desagradáveis e graves: a correspondência do antigo advogado de Yulia Tymoshenko com a cirurgiã alemã Olga Weber e Semion Semenchenko, o comandante do batalhão Donbass, revela a horrível realidade do tráfico de órgãos que decorre agora mesmo no sudeste da Ucrânia.

Slobodan Despot, escritor e diretor da editora Xenia, um homem de origem servo-croata, conhece perfeitamente a trágica história dos sérvios do Kosovo:

“A questão do tráfico de órgãos no Kosovo foi levantada nas memórias de Carla Del Ponte, quando ela descreve o seu trabalho como procuradora do Tribunal Internacional para a antiga Iugoslávia.

Uma investigação muito mais profunda foi realizada pelo juiz e deputado suíço Dick Marty. Mais tarde ele apresentou um relatório ao Conselho Europeu. Nesse relatório ele confirma os fatos da ocorrência de tráfico de órgãos retirados a prisioneiros (que na sua maioria eram civis sérvios) por médicos às ordens do Exército de Libertação do Kosovo.

Mais tarde esses órgãos (que eram retirados em condições completamente monstruosas, por vezes sem anestesia) eram vendidos através de uma rede criminosa internacional na Turquia e noutros países. Eles eram usados para transplantes em doentes que tinham meios financeiros para os pagar.

Foi descoberto que no tráfico de órgãos estavam envolvidos altos representantes do poder, porque seria impossível organizar algo de semelhante sem atrair as atenções: o transporte dos órgãos exige uma infraestrutura desenvolvida, ações rápidas e conhecimentos médicos, e tudo isso não é fácil de encontrar. Além disso, o relatório referia a existência de uma demanda elevada, porque os órgãos eram rapidamente transportados para a Turquia e para os países da Europa Ocidental”.

É provável que na Ucrânia ocorra agora algo semelhante. Contudo, é muito mais difícil prever como poderá essa verdade, se ela realmente se confirmar, ser transmitida a um vasto auditório. Recordemos que as denúncias de Del Ponte não provocaram uma grande indignação no mundo ocidental e que o deputado Dick Marty, que fez um trabalho verdadeiramente histórico e que correu grandes riscos durante as investigações, nunca foi realmente compensado por todo o trabalho realizado.

Desta vez na Ucrânia tudo poderá esbarrar com um muro de silêncio completamente idêntico. Em primeiro lugar, isso não tem qualquer correspondência com os papéis atribuídos, de uma vez para sempre, na crise ucraniana. Em segundo lugar, não é de excluir que a existência desse tráfico de órgãos está associada aos interesses de muitas pessoas influentes no Ocidente que tudo farão para que não deixar que a verdade se saiba!

Em qualquer caso, o precedente do Kosovo existe. Ele foi documentado e todos os fatos estão à vista. Recordo que isso aconteceu quando no Kosovo era administrador-representante da ONU Bernard Kouchner, o qual tinha simplesmente a obrigação de saber o que se passava no pequeno território que se encontrava sob sua responsabilidade. Quando um jornalista lhe fez uma pergunta sobre o tráfico de órgãos, ele aconselhou-o a consultar um psiquiatra. Ou seja, o Ocidente irá negar até ao fim mesmo as provas mais evidentes de uma existência desse tráfico ilegal.



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