Tragédia do Boeing malaio é pretexto para escalada na guerra de informação

Ao usar métodos sujos na guerra de informação, o Ocidente tenta marcar pontos políticos à custa da tragédia do avião de passageiros da Malásia.


Serguei Duz | Voz da Rússia

O presidente da Rússia Vladimir Putin apelou a todas as partes em confronto na Ucrânia para que estas criem condições para a realização de uma investigação completa das circunstâncias da queda do Boeing da Malaysia Airlines no distrito de Donetsk. O chefe de Estado russo emitiu um comunicado especial nesse sentido. Ninguém pode, nem tem o direito, de usar essa tragédia para atingir objetivos políticos egoístas, sublinhou Putin.

No entanto, é precisamente isso que está acontecendo. A catástrofe do Boeing 777 está sendo usado pela Europa e pelos EUA como pretexto para aumentar a histeria anti-russa, que será o preâmbulo de uma nova guerra fria.

Essa é uma circunstância muito incômoda para os adversários do Kremlin. As acusações contra o Kremlin já foram divulgadas. Logo, não há necessidade de aguardar os resultados de uma investigação independente, mesmo que ela seja realizada. Os peritos referem que no mundo atual a realidade física está frequentemente subordinada à realidade informativa: assim, a ausência de armas de destruição maciça no Iraque não impediu os EUA de invadirem o Iraque. A situação do Boeing malaio é idêntica: quem for acusado pelo Ocidente de ter sido o culpado, esse será culpado independentemente da realidade objetiva.

A opinião pública ocidental está sujeita a uma pressão informativa bastante forte. Contudo, no início os escribas russófobos são obrigados a se conterem. Comenta o analista político ucraniano e presidente do Centro de Análise de Sistemas e Previsão Rostislav Ischenko:

“Todas essas acusações se destinam a privar as milícias do apoio internacional e para dificultar a posição internacional da Federação Russa. Eu não falaria da popularidade barata de alguém em concreto. Aqui há interesses dos Estados Unidos e há interesses da direção ucraniana. A única coisa que eu constato, é que nesta situação o Ocidente, aliás, mesmo incluindo os Estados Unidos, se comportou de uma forma bastante contida. Ou seja, ele não repetiu imediatamente as acusações infundadas de Kiev, que acusaram os milicianos e a Federação Russa ainda quando o avião estava caindo. Ou seja, quando ainda era completamente impossível dizer quem o terá abatido e mesmo se ele terá sido abatido. Nessa situação o Ocidente demonstrou uma grande contenção fora do habitual, porque apesar de os Estados Unidos terem feito acusações indiretas à Rússia, eles não iniciaram uma campanha tão histérica como já o tem feito.”

O comentarista norte-americano Paul Craig Roberts constata com horror que a imprensa ocidental tenta, num impulso unânime, se ajustar ao rumo tomado por Washington e atribuir todas as culpas à Rússia, contrariando o bom senso. Na opinião do comentarista, se trata de uma total encenação de informações e de uma deturpação intencional do panorama real. Sendo um antigo editor do The Wall Street Journal, Paul Craig Roberts de certa forma justifica os seus colegas sublinhando: “Os jornalistas têm de escolher entre aceitar a mentira e serem marginalizados.”

“O defeito da diplomacia de Putin é que ela se baseia na boa vontade e no triunfo da verdade”, escreve Roberts. “Mas o Ocidente não tem boa vontade e Washington não está interessado no triunfo da verdade, mas no seu próprio triunfo. Putin não enfrenta parceiros sensatos, mas um ministério da propaganda dirigido contra ele.” O mundo volta a viver as “armas de destruição maciça de Saddam Hussein”, as “armas químicas de Assad” e a “bomba nuclear iraniana”, refere o comentarista. “Washington mentiu durante tanto tempo que já não é capaz de outra coisa”, conclui Paul Craig Roberts.

A direção da Ucrânia neste momento se encontra sob grande estresse devido à possibilidade da verdade ser descoberta. O apoio aos assassinos de civis não deixa quaisquer hipóteses políticas a manter uma reputação internacional. Mas, apesar da retórica agressiva, o Ocidente irá forçar Kiev a se sentar à mesa das negociações, considera o analista político e diretor do Centro de Estudos Eurasiáticos Vladimir Kornilov:

“Nós vemos que o Ocidente se apressou a acusar de tudo a Rússia, não olhando a nada, a quaisquer provas ou testemunhos, e irá acusar e pressionar a Rússia constantemente. Todo esse conflito em torno da Ucrânia foi, em princípio, criado para enfraquecer a Federação Russa. É evidente que para o Ocidente a Ucrânia não tem importância e é claro que, tendo o conflito sido provocado com esse objetivo, o Ocidente irá manter esse ponto de vista. Mas reparem que, acusando a Rússia, amaldiçoando completamente tanto a direção russa, como os rebeldes de Donetsk, o Ocidente continua a apelar a todas as partes do conflito a acabarem com esse derramamento de sangue. Sobre Kiev também serão exercidas pressões, de outra forma, claro, talvez mais a nível de bastidores, para parar esse derramamento de sangue sem sentido no Donbass. Eu tenho grandes esperanças de que esta tragédia, que internacionalizou o conflito, acabe por obrigar o Ocidente a apelar à Ucrânia para que pare com esta operação punitiva, alegadamente antiterrorista.”


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