Ativista de SP diz que atendeu 'ao chamado' de combatentes na Europa

Ao G1, Rafael Lusvarghi explicou que é voluntário do exército pró-Rússia.
Após ato na Copa, ele ficou 45 dias preso em SP acusado de ser black bloc.


Kleber Tomaz
Do G1 São Paulo

Em entrevista ao G1 por e-mail, o ativista Rafael Marques Lusvarghi, que ficou 45 dias preso em São Paulo acusado de atos violentos durante a Copa do Mundo, disse que está em Donbass, na "Nova Rússia". Ele revelou que se juntou às forças rebeldes ucranianas pró-Rússia desde o dia 20 de setembro.

"Os milicianos pró-russos têm sido chamados pela mídia de separatistas, mas quero deixar claro que são os agentes de Kiev que quiseram separar o Donbass da Rússia, que a população daqui é russa, fala russo, se sentem russos", explicou.

Em agosto, quando foi solto de uma prisão paulista, ele havia dito ao G1 que pretendia ir à Ucrânia para se unir aos separatistas em Donetsk, que querem a divisão do leste do país.

Por e-mail, o brasileiro defendeu sua missão de combatente no Leste Europeu. "Quero precisar que respondi ao chamado da Frente Brasileira de Solidariedade com a Ucrânia (que apesar do nome é pró-Rússia) e da Brigada Continental, braço armado da organização Unidade Continental, movimento que é a síntese entre as Forças Armadas da Colômbia e o Hezbollah", escreveu.

No dia 21 de setembro, ele postou uma foto em seu perfil no Facebook como voluntário do exército pró-Rússia.“Eu vou ficar por um longo tempo agora. Eu me tornei voluntário no exército de Novorossiya”, escreveu Rafael na página. A mensagem foi traduzida do russo. Nela, o manifestante aparece com o nome "Rafael Fernandovich Marques Lusvarghi (Cachaça)".

A imagem foi postada três dias depois de a Justiça de São Paulo absolvê-lo das acusações de liderar protestos com depredações portando explosivos. Além de Rafael, o estudante Fabio Hideki Harano, que também ficou detido pelos mesmos crimes, foi inocentado. Ele já estava em liberdade

Os dois tinham sido apontados como lideranças do movimento Black Bloc, que prega a destruição do patrimônio público como forma de manifestação. Rafael e Fábio sempre negaram as acusações.

Procurada pela equipe de reportagem, a assessoria de imprensa da Defensoria Pública de São Paulo, que defendeu Rafael, informou que o rapaz ainda responde "pelos crimes de associação criminosa e desobediência", mas "não houve imposição de qualquer restrição ou medida cautelar que o impedisse de se ausentar da comarca onde responde o processo."

Quando conversou no mês passado com a equipe de reportagem, Rafael falou que só iria à Ucrânia após o fim do processo judicial que responde em liberdade no Brasil.

Ucrânia

Rafael, que já foi soldado da Polícia Militar (PM) em São Paulo e perdeu os empregos como professor de inglês e assistente de help desk devido às duas prisões que sofreu em atos anti-Copa, postou mais mensagens e fotos no seu Facebook.

Em algumas imagens divulgadas neste mês aparece usando uniforme, segurando arma e posando à frente da bandeira rebelde pró-Rússia. Procurado nesta quinta-feira pelo G1, seu irmão, o servidor público Lucas Lusvarghi, afirmou que soube da viagem de Rafael pela página pessoal dele na internet. “A última vez que o vi e falei com ele foi há 15 dias”, disse Lucas, que mora em Jundiaí, interior paulista. “Dei a chave de minha casa para ele, mas perdi contato. Soube que ele foi lutar na Ucrânia pelo Facebook, no domingo [21] de manhã”.

Rafael também postou mensagens e fotos em 19 de setembro informando que havia chegado à Praça Vermelha, em Moscou. “Eu agradeço aos camaradas e irmãos por todo o suporte e incentivo que tenho recebido, especialmente pelos que tornaram tudo isso possível ”, escreveu. “ Viva Novarussia, viva Brasil!”

Rafael já planejava ir à Ucrânia antes de ter sido preso em São Paulo. “Tinha uma passagem comprada para lá. O voo partiria em 28 de junho”, disse ele è época. Cinco dias depois, no entanto, foi detido novamente pela polícia suspeito de atos violentos.

Rafael ficou conhecido da imprensa pelas prisões que sofreu nos atos anti-Copa. A primeira delas pela PM em 12 de junho, na abertura do torneio, na estação Carrão do Metrô. A segunda pela Polícia Civil em 23 de junho, quando estava na Avenida Paulista, sem camisa e vestindo kilt – traje escocês semelhante a uma saia.

Perfil

Devorador de livros sobre os vikings, tem a palavra bersek tatuada no braço, numa alusão a guerreiros da mitologia nórdica.

Em 17 de junho, se submeteu a uma escarificação (técnica que consiste em cortar a pele para deixar uma cicatriz) num estúdio de tatuagem enquanto a seleção brasileira empatava com a mexicana. Decidiu fazer uma cicatriz no rosto inspirada em personagens como o guerreiro Leonidas, do filme 300.

Na conversa com o G1 em agosto, Rafael se definiu como “combatente”, “stalinista” e de “esquerda”. Apesar disso, um juiz, Marcelo Matias Pereira, já o chamou de “esquerda caviar” – expressão de origem francesa (gauche caviar) para descrever ativistas que dizem ser socialistas, mas que usufruem do capitalismo. O mesmo magistrado foi quem o soltou depois.

Mais velho de quatro irmãos nascidos numa família de origem húngara e de classe média, Rafael é jundiaiense. A mãe professora é separada do pai, empresário em Minas Gerais. Na adolescência, fez curso de técnico de agronomia. Aos 18, se alistou na Legião Estrangeira, na França, onde serviu por três anos. Na volta ao Brasil, foi soldado da PM de São Paulo entre 2006 e 2007. Depois tentou a carreira de oficial da PM no Pará, mas abandonou em 2009.

No ano seguinte, seguiu para a Rússia para concretizar seu desejo de conhecer, in loco, o que só havia visto em fotos do período comunista. Lá, estudou administração, onde ganhou de um professor o apelido de Riurik Varyag Volkovich, da dinastia Rurik. Tentou entrar para o exército russo, mas não conseguiu e voltou à América do Sul. Contou ter entrado no território colombiano, onde ingressou nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).


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