EUA ampliam planos de intervenção militar na Síria

Os ataques aéreos aos combatentes do Estado Islâmico (EI) no território da Síria e do Iraque já não satisfazem em pleno as ambições dos EUA. O Pentágono insiste em que seja realizada uma operação militar terrestre. Uma série de países se pronunciou disposta a apoiar esta iniciativa. Todavia, muitos Estados receiam que, na ausência do mandato do CS da ONU, as ações militares do Ocidente naquela região possam provocar o início da Terceira Guerra Mundial.


Natalia Kovalenko | Voz da Rússia

Mal passou uma semana desde que os EUA começaram a efetuar raides aéreos contra as posições dos terroristas no território da Síria sem a autorização do Conselho de Segurança e de Damasco. Agora, Washington quer ir muito mais longe. “Para fazer frente aos extremistas do EI será necessária uma operação militar no território do Iraque e da Síria” anunciou o chefe do Comitê Unificado dos comandantes das Forças Armadas dos EUA, Martin Dempsey.

Embora o Pentágono não tenha pedido oficialmente a autorização para o início de operação terrestre, até os cidadãos dos EUA consideram ser essa uma questão de tempo. Resultados de um inquérito, realizado pela cadeia televisiva NBC e jornal The Wall Street Journal, demonstram que 72% dos norte-americanos duvidam que o presidente Barack Obama cumpra a promessa de não enviar tropas contra os combatentes do EI.

A Grã-Bretanha se mostrou “compreensível” e solidária com tal abordagem do Pentágono, enquanto a Turquia até admitiu a hipótese de participar de uma operação militar contra o EI no Iraque e na Síria. Damasco deu a entender não ter nada contra a luta conjunta contra os terroristas desde que os objetivos, prazos e meios a empregar sejam coordenados no CS da ONU, correspondendo às normas do direito internacional. Mas esta condição tem sido ignorada por Washington. O que leva a pensar que, em paralelo com a luta contra o terrorismo, os EUA pretendem concretizar o antigo desígnio, visando a derrubada do regime de Bashar Assad, salienta o presidente do Instituto do Oriente Médio, Evgueni Satanovsky:

“Os EUA não desistiram de sua ideia de derrubar Assad e mudar o poder na Síria. O problema é que não se pode separar a operação terrestre contra os terroristas de um golpe às tropas de Assad. Ninguém pode dizer que ordem, num ou noutro momento, poderá ser emitida pelo atual presidente dos EUA”.

Mas se, paralelamente às ações antiterroristas, Washington fizer mais uma tentativa de alterar o regime sírio, o Ocidente encabeçado pelo EUA enfrentará dificuldades enormes, dificilmente comparáveis aos problemas de hoje, considera o perito Serguei Demidenko:

“Se Washington derrubar o regime de Bashar Assad, o número de movimentos idênticos ou similares ao EI irá crescer em flecha, aumentando 3 ou 4 vezes. Seja como for, Bashar Assad tem sido uma força real, capaz de conter a propagação de doutrinas islâmicas radicais. O regime de Assad, o Irã, os shiitas iraquianos e os curdos constituem uma força em luta contra o EI apesar das perdas que estão sofrendo. Nesse conflito, a Síria, no plano étnico-confessional, tem representado um perigo maior do que o Iraque. Se os EUA lograrem seus objetivos, afastando Assad do poder, se iniciará um verdadeiro caos que Israel jamais irá perdoar”.

E não só Israel. Muitos peritos opinam que após uma troca forçada do poder na Síria, os conflitos no Oriente Médio irão provocar uma guerra mundial que atinja tanto os países da região, como muitos outros Estados, situados mais longe da zona do litígio, adverte Evgueni Satanovsky:

“A Terceira Guerra Mundial será a guerra de civilizações. Uma guerra do Islã radical contra os demais grupos islâmicos no Oriente Médio, e, em simultâneo, contra os países que não fazem parte do mundo islâmico – a Índia, a China, a Rússia ou “fragmentos do cristianismo africanos. Não me refiro a Israel, à Europa e aos EUA que estarão na mira de terroristas. Nesse contexto, a Síria é o último baluarte que vem atraindo as forças colossais dos terroristas que, caso contrário, teriam atuado em outras vertentes”.

Em termos oficiais, Washington ainda não divulgou planos de proceder a uma operação militar terrestre. Há dias, o presidente Obama reconheceu ter menosprezado o perigo do EI, enquanto a capacidade das tropas iraquianas foi sobrestimada. Por isso, a operação no Iraque e na Síria, em vez de alguns meses, levará, no mínimo, três anos.


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