Militares do Rio acreditam que trabalho no Haiti pode ajudar tropas nas favelas cariocas



Gabriela Moreira

RIO - Tharley Sabino tem 25 anos e apesar do nome americanizado é carioca, de Realengo. Do alto de uma laje, localizada no terceiro andar de um prédio, ele tem uma visão privilegiada dos 300 mil habitantes da favela Cité Soleil. Com um fuzil na mão, Tharley é um sargento do Exército a serviço do Brasil, na cidade de Porto Príncipe, no Haiti.

Estampando um sorriso que demonstrava alívio e expectativa, Tharley foi entrevistado pelo EXTRA em sua última semana no país (leia também: Conselho de Segurança da ONU estuda a prorrogação da permanência das tropas brasileiras no Haiti ).

- Deixo o Haiti com o sentimento de que o Rio tem jeito. É uma cidade maravilhosa e tem muito mais potencial do que Porto Príncipe - disse o militar, que integrou o 8 contingente, formado pela base do Exército no Rio.

Para Tharley, a experiência no Haiti foi a oportunidade de colocar em prática o que aprendeu na teoria, no Brasil. Em sua última semana em Porto Príncipe, ele comandava os plantões de patrulha do alto da Casa Azul, um antigo reduto de milicianos de Cité Soleil, tomada pelos brasileiros em 2006. Apesar de "pacificada", o risco de ser atacado por grupos milicianos está sempre presente.

"Começaram a fazer um patrulhamento a pé com mais naturalidade "

Se o Rio vai ganhar com o treinamento dos militares no Haiti, não se sabe, mas já é certo que o país caribenho ganhou com os militares cariocas (leia também: Tropas brasileiras que atuam na missão de paz da ONU são as mais queridas da população ). A constatação é do general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-comandante da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH, em francês), em 2004 e 2005.

- Eu me lembro da chegada do 3º contingente (2005, também carioca), foi engraçado, porque eles não precisaram se adaptar. A garotada falou: ah, é favela, então é comigo mesmo, tô em casa. Foram muito bem aqui por causa disso, eles abriram um caminho importante. Começaram a fazer um patrulhamento a pé com mais naturalidade - contou Heleno.

Exército manteve controle sem força

Diretor-executivo da organização não governamental Viva Rio - que mantêm projetos sociais no Haiti - o antropólogo Rubem Cesar Fernandes, diz que no Caribe a atuação do Exército tem sido vitorioso.

"Um dos motivos é o uso da arma não-letal "

- É uma presença bem sucedida. Estava lá na revolta contra a alta dos alimentos (em abril de 2008). A população tentou invadir o Palácio, houve quebra-quebra, mas o Exército conseguiu controlar tudo isso. Ninguém da tropa se feriu, nem houve mortes. Um dos motivos é o uso da arma não-letal - explica o antropólogo.

Segundo ele, o Exército no Haiti tem cumprido com o que o mandato da ONU estipula, que é manter o ambiente seguro e estável, com a preservação de vidas.

- A capacidade de segurar uma situação como essa, mantendo a segurança da população, vem do treinamento. Acompanho a situação do país há muito tempo e posso dizer que lá eles conseguiram segurar a situação. Isso é um exemplo do uso de força, mas com táticas que reduzem o impacto, a vitimização, a letalidade e, assim, reduz as conseqüências - analisa Rubem Cesar, completando – No período, houve pressão diplomática para que se usasse de força, mas o comandante manteve sua posição e preferiu não usar.

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